Estive na apresentação do novo projeto para o Engenho Central, concepção do arquiteto Paulo Mendes da Rocha e gostaria de expor algumas considerações, além de ressaltar a importância da presença do arquiteto, de reconhecido mérito, destacado internacionalmente neste ano de 2006, e a aula que nos deu. Foi um prazer ouvi-lo.
Antes deste, outros projetos para o mesmo local, de qualificados escritórios, foram apresentados à cidade. Oscar Niemeyer na administração João Herrmann, Carlos Bratke na administração Mendes Thame, Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci na ultima administração de José Machado - projeto esse fartamente discutido, desde o programa geral, a ocupação dos edifícios, às restaurações. O projeto concebido por Ferraz e Fanucci, tendo como eixo o Museu de Ciência e Tecnologia, foi dentre todos apresentados até agora, incluindo o de Mendes da Rocha, o mais transparente para a população, com a participação efetiva de representações da sociedade civil.
Quanto ao novo projeto, insisto, foi um prazer assistir à aula de Mendes da Rocha, mas infelizmente ele não veio a Piracicaba para discutir o projeto do Engenho Central e nem foi estimulado pela administração a isso. Não parece interessar à administração nem ao financiador do projeto, a COSAN, essa discussão. As poucas perguntas permitidas não foram respondidas adequadamente.
Difícil fugir às comparações com tantos projetos para a mesma área. Este, encaminhado estritamente no gabinete do prefeito, deixa uma lacuna como processo - uma pena, pois seria rico para a cidade a interlocução com vários segmentos, e nos daria a possibilidade de ouvir mais a Mendes da Rocha.
Como profissional, não considero que esse seja o melhor programa para o engenho. A cidade aspira a um Centro de Convenções há muito tempo e o Engenho Central precisa de uma definição para a sua revitalização. No entanto existem outros estudos para um Centro de Convenções, tais como a ESALQ e seu projeto na Fazenda Areião, a UNIMEP com estudo na Fazendinha, além da expectativa anunciada na antiga Usina Monte Alegre - espaços institucionais ou privados - sem o ônus de privatização do espaço público.
O programa tem muitos pontos polêmicos que poderiam ser aparados se o encaminhamento fosse outro. Por exemplo, porque colocar um hotel com vários pavimentos dentro do Engenho Central, se a prefeitura acaba de vender o Hotel Beira Rio, edifício apto a ter uma atualização? Os questionamentos sobre a ocupação dos edifícios, a não observância às legislações pertinentes, o estudo de impacto de vizinhança, não foram respondidos a contento.
Quanto ao Pavilhão de Exposições, imaginá-lo em funcionamento contínuo, sem a previsão de estacionamento interno à área, para carros e caminhões, causa apreensão, já que a legislação municipal prevê que as áreas para estacionamento sejam proporcionais às áreas edificadas, e resolvidas dentro do próprio empreendimento.
O Teatro e Foyer, previstos dentro dos Edifícios Gêmeos, não se justificam por si só, pois já temos um teatro com a mesma capacidade, que até hoje está inacabado, sem acústica, necessitando de manutenção e atualização da sua infra-estrutura.
A previsão de uma via perimetral fazendo a interligação, na margem direita, entre a ponte do Mirante e a ponte do Morato, trazendo até esta via parte do trânsito da Av. Presidente Kennedy e suportando parcialmente a demanda de estacionamento do empreendimento é um outro ponto polêmico na proposta. A modificação da configuração viária do bairro Terras do Engenho, desenhado de forma a ter apenas trânsito local, onera moradores e proprietários de terrenos que investiram e edificaram de acordo com restrição urbanística do loteamento aprovada pelo município. Com o agravante dessa perimetral, ao substituir as ruas de acesso local (que formam um cinturão em volta da mata remanescente), criar a necessidade de passagens transversais através da mata que delimita o Engenho Central, para acessar a área de intervenção. Trata-se da única mata com essas características dentro da malha urbana, que mereceu um estudo específico da ESALQ para o Projeto Beira-Rio, e que estará evidentemente mais vulnerável.
Mas nem tudo é passível de crítica, o restaurante previsto para o Mirante, em substituição ao existente, numa das extremidades da área, seria muito bem vindo e poderíamos aí ter o nosso projeto Paulo Mendes da Rocha.
Egidio Simoni é arquiteto e urbanista.