Desde que nos debruçamos, tantos de nós, sobre os variados temas decorrentes do Projeto Beira-Rio – de sua concepção ao momento atual, de contínua elaboração e com frentes de implantação –, temos aprendido e ensinado.
Em todo esse processo, a partir do diagnóstico, que nos revelou quem somos através da coleta de nossas próprias vozes, ao apuro de um plano que se valeu, sobretudo, do apelo – sensível a tantos – à água e às alternativas para sua manutenção com qualidade, percorremos interessantes colóquios.
A opção por desenvolver esse plano na estrutura da Prefeitura, para que o processo criasse lastro onde as ações pudessem ser iniciadas, foi fundamental para se definir o andamento do porvir. Tínhamos clareza de que o espólio não sistematizado de uma prefeitura, o que é carregado pelos agentes de cada secretaria em suas variadas funções, é muito rico e deveria ser considerado sempre que se fizessem propostas ou se indicassem procedimentos. Fomentar o diálogo entre consultores, nas várias áreas do conhecimento que o projeto teve de abordar, e o corpo técnico efetivo dessa Prefeitura criou patamares sólidos de compreensão da abordagem adotada.
Selecionar os imprescindíveis interlocutores – o usuário, o órgão ambiental, todas as secretarias municipais, os interessados em geral, os estudantes – confirmou a importância de se produzirem instrumentos de comunicação dos conceitos que são tratados no decorrer do processo; essa prática qualifica sobremaneira a discussão e habilita todos os participantes a tratar questões importantes da cidade de uma forma menos passional e mais calcada em critérios, o que não é muito simples.
O diálogo com outras instituições foi certamente franqueado pela característica do projeto e pela maneira como se apresentava: essa demanda, vinda da Prefeitura e recheada de ponderações, dúvidas, pareceres dos consultores e focadas em questões específicas, em perímetros definidos, colocou-nos numa situação interessante para formular e dar andamento ao projeto. Discutíamos a melhor abordagem para o momento – os constantes contatos com representantes, desde o Comitê das Bacias, através de sua representação local; a ESALQ, através do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal; o DEPRN, o Codepac, a Câmara de Vereadores, as várias apresentações públicas – práticas que trouxeram ao desenvolvimento do projeto – e aqui já vale lembrar que ao final do plano de ação tínhamos um projeto executivo para implantação – justificativas para as intervenções propostas.
O que hoje estamos vendo será mais pertinente quando puder ser avaliado não como uma obra de requalificação isoladamente, mas o que isso representa no contexto de todo o plano. Manter animadas e bem cuidadas essas margens, a área central da cidade reverencia Piracicaba no seu patrimônio único e terá tanto mais sentido quando pequenas ações se fizerem decorrentes dessa implantação de infra-estrutura que só caberia ao poder publico executar.
Buscar compromissos que se insiram nas várias esferas de governo – municipal, estadual e federal – e manter contínuo e animado o processo são tão importantes quanto buscar recursos para a continuidade de implantação de grandes obras de infra-estrutura. Cremos que o que possibilita a permanência dessas questões no nosso cotidiano seja a adoção pelas associações, ONGs e sempre a instituição publica, das premissas apontadas no plano, sinteticamente, à adoção do desenho ambiental como instrumento de planejamento.
A Rua do Porto está aí. Que nossos sonhos de cidade possam ser, por cada um, acalentados e enriquecidos.
Publicado no jornal de piracicaba, no dia da inauguração das primeiras obras do projeto beira rio, em dezembro de 2004.