Quando se faz uma pergunta, espera-se uma resposta clara e objetiva. As que recebemos relacionadas à construção da Ponte Estaiada junto a Ponte Irmãos Rebouças são muito frágeis, insuficientes para se estabelecer um debate, uma troca de idéias madura. Achar a justificativa realmente não é fácil.
Por outro lado, pela falta de justificativa, fala-se de outras obras “sociais” (sem relacioná-las ao incrível índice numérico que as acompanha) incorporando os equívocos que cansamos de escutar durante esta administração quando se fala do Projeto Beira-rio.
É sempre bom lembrar, pois quem hoje fala sobre o projeto não cita, que ele foi construído em 2002, na administração do prefeito José Machado e por uma equipe multidisciplinar montada por ele dentro da própria estrutura municipal.
Aliás, cabe aqui um parêntese.
Esta equipe foi montada com a finalidade não só de atender ao Projeto Beira-rio, mas ser o embrião do IPPLAP. Na gestão atual, o IPPLAP foi paulatinamente sendo desmontado até chegar ao que sabemos hoje. Estrutura mínima, as poucas decisões concentradas, técnicos desestimulados, enfim, não se planeja, estamos a reboque dos problemas cotidianos.
Voltemos ao Projeto Beira-rio.
O Projeto tem nas suas premissas e seus perímetros seu caráter dinâmico, que abarca desde a escala regional até a intervenção nas beiras do rio. Metodologicamente a divisão em etapas na área urbana serviu para hierarquizar ações e contemplar o diálogo necessário com o usuário e as instituições. Nesse aspecto o presidente do IPLLAP repetidamente torna público seus equívocos.
Por exemplo, a mata do Engenho Central poderia ser objeto de um projeto a ser encaminhado ao Ministério do Meio Ambiente, para manutenção das características de mata paludosa, ocorrência rara no perímetro urbano. Esse e tantos outros indicativos estão presentes no Plano de Ação Estruturador do Projeto Beira-rio, que como o nome diz é um Plano, definidor de ações e projetos decorrentes.
O problema é a administração municipal entender a diferença entre Plano e Projeto.
Outras obras foram citadas.
No Mirante perdemos a oportunidade de demolir uma construção remanescente do restaurante ali existente, considerada uma excrescência à beira d’água, para ali mostrar às pessoas como se faz educação ambiental.
A Biblioteca Municipal implantada no terreno antes reservado ao Memorial da República, belo projeto, vencedor do concurso nacional patrocinado pela própria prefeitura municipal e que poderia ser perfeitamente adequado para a função de uma biblioteca. Boas obras devem necessariamente ser precedidas por bons projetos.
No Engenho Central, tudo dentro do projeto inicial deixado também pela administração José Machado, manteve-se o museu mudando seu nome, provavelmente a pedido do financiador ou para descaracterizar o anterior. Contratou-se o mesmo escritório que fez o plano diretor para detalhar o projeto do teatro. Portanto nenhuma novidade a não ser o projeto citado para a mata. A tentativa de privatizar parte do Engenho Central com a construção de um hotel e um centro de convenções parece em dormência.
A administração Barjas Negri herdou uma carteira de ótimos projetos que demandaram muito tempo da administração de José Machado. Alguns implantados com o reducionismo de que somos testemunhas, outros abandonados com a desculpa do custo, ou seria falta de capacidade para enfrentá-los? Bons projetos custam, normalmente são polêmicos e precisam ser discutidos, demoram e dão trabalho à administração.
Para finalizar, gostaria de propor uma dobradinha, ressalvadas as diferenças ideológicas. José Machado com seu olhar longo para as coisas da cidade, sonhador, humanista, aquele que delega e Barjas Negri com o seu olhar curto, cintura dura, bom gerente, cioso por mostrar serviço.
Egidio Simoni – arquiteto e urbanista